Carta após revolta, e razões de minhas cartas


(Em 23/01/2023)

Meu amigo...

Venho lhe ocupar os olhos com mais um enfadoso relato, embora que o último ter sido de muito recente a mim (digo isso em referência à data que comecei a escrever, pois era para ser entregue em janeiro!) me ponho novamente a redigir essa nova carta, por razões que lhes serão aclaradas ao final deste texto.

Das antecedentes cartas que te enviei, creio que todas foram improfícuas, porém sigas acompanhando, pois nessa me esforço para que, sobressaia-se ainda pior.

Nesse ônibus que ando, incita-me a vertigem, e por essa razão, detesto todos os furgões que transitam pelas ruas! Em contrapartida, os aéreos da janela me favorecem a recôndita distração; eis que reflito, de olhos ao banal trajeto.

Presumo, que tu aches, que eu esteja no costumeiro consumo de balas, que faço até chegar ao destino, mas guarde o sossego, há alguns dias, que esses doces não me acompanham, aliás a motivação desse vicio é a escolha de um mal menor, um que cesse as oscilações que tenho em transportes.

Eduardo, receio que eu perjuro, já que tardo em cumprir minhas promessas, e para mais, quando a demora é o motivo de eu a faze-las, mas falemos disso, num outro momento.

Há uma coisa que a ti, quero compartilhar; eu ainda não esqueci aquele ocorrido do dia 08 desse mês, acredito que toda a população foi surpreendida, como eu também o fui. Estava almoçando enquanto mexia no notebook, pensara que era um devaneio, quando vi milhares de homens de tamanha braveza, que partiam em execução de reabilitar o governo enfermo.

Fiquei demasiado esperançoso, nunca pensei que meu povo teria culhões para tal feito. Essas garras foram semelhantes às do povo americano, que a haviam realizado algo semelhante, a um ano atrás, também, por uma provável fraude.

Era cerca das 15h da tarde, todo o congresso, planalto e STF, já estavam constituídos, o povo, de vestimentas verdes e amarelas; crê-me, pude sentir o valor da valentia em cada olhar, algo que eu jamais tinha presenciado (meus 22 anos nunca presenciaram um ocorrido que chamasse de “evento histórico”, dantes só tinha ouvido falar) de verdade aquilo não era crível, pela repentinidade em que se apresentou, falo isso pensado em todo entorno:

— Das circunstâncias que antecediam o ato, pois era domingo, os funcionários públicos não estavam lá, e as manifestações anteriores que se faziam eram cada vez mais amenas, a comando das “leis da complacência” essas que nosso povo impunha a si mesmo;

— As conjecturas que rolavam sobre uma revolta, se enfraqueciam ao perder boas ocasiões.

Tu tinhas advertido, se ocorresse a tal “interversão” seria contra o povo e não a seu favor, (depois farei uma petição para que cambiem o significado desse termo). Eu sabia que muitos dos milicos não passam de corporativistas que, como cães abandonados, esperam servilmente outro dono que lhes ordenem, então na melhor das hipóteses, “daria velha”.

Sei que houve muita depredação, e desse ato, não aprovo e tampouco desaprovo, pois, não tomei posição, isso nem interiormente; sei que a verdade, substantivamente, é una, e por essa razão me ponho em silêncio.

Cada homem que estava ali, tinha suas motivações e seus ideias, o que, em geral deixara o grupo mais diversificado, fora a infiltração da esquerda com objetivo de aviltar a imagem dos manifestantes; entre muitas das minhas dúvidas, eu ainda pergunto se essa luta foi debalde? E eu não sei, é que honestamente me intriga, e independente da resolução disso, sei que em cada um estava incutido a mesma vontade, sobrestante a qualquer outra, que era a de livrar o nosso país do socialismo, da roubalheira, da miséria, da falsidade e das mãos internacionais, primeiro chutando do cargo presidencial, este homem, que já tinha sido uma ofensa sua tenra saída do presídio.

No Brasil, como em muitos outros países, a mídia está resguardada com uma confiabilidade absurda (ainda que neguem, por contas dos meios alternativos em voga) veja que é só o portador da notícia mostrar sua credencial, que já dá a ele o poder de dizer o que é verdade, e ainda, quem está mentindo! Os fatos primários, já não são respeitados, tanto que os mesmos, viraram alvo de “fake News”, já que, ao público não é apresentado a totalidade do que ocorreu, só retratam o tumulto e os autores dele, não é vantajoso mostrar todo o contexto, as motivações , contra quem estavam lutando e as glórias obtidas, e assim conseguem fazer o “He Man” virar o mega opressor do “Esqueleto”.

Por que uma carta?

E o porquê de te enviar uma “carta”, se estamos a distância de sucintos “clicks”?

É que dantes, as mensagens eram escritas com mais rigorosidade e afeição, visto que, não poderiam ser enviadas com a mesma constância que cá o fazemos em nosso tempo, e assim era necessário caprichar o máximo nas palavras, para que elas pudessem ser entendidas sem ambiguidades, e caso não soubesse escrever, teria de encarregar alguém para redigi-las; ou pelo contrário, não haveria uma segunda chance para fazer correções, e o assustador, é que temos uma maior flexibilidade, para transmitir uma ideia, até se pode enviar áudios, mas ainda, o erro de ser incompreendido, continua.

Um fato curioso, era que os romanos faziam manuais de como escrever cartas, e isso se seguiu no império bizantino, que propunham 3 recomendações para uma carta ser bem escrita, teria de ser breve, clara e elegante.

Era muito tempo longe dos amigos e familiares queridos, desse modo, quando enviavam as mensagens, sentia parte da aflição de uma mãe que deixa partir o filho numa primeira viagem, e inquieta essa, aguarda o retorno.

Os relatos pessoais, tem um valor histórico, às vezes, muito maior que obras de histórias, pois a quantidade delas e o conteúdo, são de tamanha riqueza, que daria para remontar um século ou esboça-lo ao menos, com a veracidade mais precisa que qualquer escrito posterior; é o que nos mostras as “Paston Letters” cartas que foram enviadas nos anos de 1422 a 1509, essa coletânea contribui para entender muitos dos aspectos daquele tempo, e ainda com as verdadeiras testemunhas, essas que buscamos para entender fatos nebulosos, ademais pensado nesses termos, os escritos que se faziam não buscavam favorecer acima de tudo um lado da história, gerar preconceito, ou escrever romances enviesados e cheios de propagandas.

Sim, Edu, há uma infinidade de informações retratadas nas correspondências, que posteriormente vieram a ter valor, como: Novas leis, confidencias, aflitos de um povo, ações administrativas, relações de comércio; também contendo os dados de quem escreveu, para quem e sobre o quê.

Se o que diz o romancista, historiador ou o propagandista (reporte) é duvidoso, tenhais de salvaguarda, os relatos! pois, muitos deles estão sob o comando da expressividade, pois o relator só quer verbalizar sua experiência, e receber consentimento do destinatário para ouvir aquilo que se confessa, e mesmo que as informações desse seja incerta, quer dizer, ela o fora mal-entendida pelo locutor antes de ele transmitir, ainda assim, não há perversidade, ora! Se na carta só era pretendido compartilhar suas veleidades, a matéria de seus sentimentos ou das razões de um feito, sem a eles atribuir forma, não é uma coisa perversa, o que se ocorre, é evidentemente, “o chamar pelo outro”, para que ele o acompanhe nessa última atividade, um fiel confidente, que com ele conceitua a coisa. É isso, o único fim, é trazer o que é de sua particular experiência ao bom leitor amigo.

As cartas, quando estão sobre essas condições, não há um apelo ou um empreendimento para a venda e circulação de uma narrativa, já que o queixume a lamúria foram feitos na quietude.

E ajunte com essas razões, minha enorme vontade de ser um romancista, aqui eu faço meu ginásio, para ganhar a arte da escrita, aliás se falho em expressar o que me passa, como expressarei a experiência alheia.

A carta, demorou chegar em ti, mas isso ocorria antigamente, então suponha que ela teve um longo percurso, e a disfrute com a noção da retroatividade.

¡Adiós! como dizem os espanhóis, na próximo me esforço, em ser breve, claro e elegante

- Diomedes

Entregue: 25/06/2023

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1 Comentários

  1. Parabéns ao autor, aqui certamente foi trazido a tona algo que a muito se perdeu no passado, que seria o ato de escrever cartas a parentes e amigos que estavam a larga distância.. com certeza, a carta deveria ser bem feita, a ponto de expressar de forma clara e objetiva o que se pretendia com ela. Além claro, de tentar ao máximo expressar sua personalidade em palavras, ao ponto que o leitor tivesse a experiência de estar conversando face a face com o autor, como se este tivesse transferido uma parte de si em um papel.

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